Phnom Penh – Do you need a tuk-tuk, sir?

Se você chegou até aqui pelo google, não deixe de passar por este post para entender como planejar o seu roteiro pelo sudeste asiático…

Phnom Penh (lê-se Non Pen ou, se você for bom com a língua, aquele som com a língua entre os dentes…)

Inicialmente, a capital cambojana não fazia parte do nosso roteiro. Iríamos apenas para Siem Reap ver as ruínas de Angkor. Porém, após uma breve pesquisa e alguns vídeos pela internet, concluí que não poderia visitar o Camboja sem conhecer sua capital. Deixamos apenas um dia, pois, para ela. Digo que foi pouco. Se você tiver duas noites, considere ficar lá por mais tempo.

A capital cambojana tem muito mais a ver com seu povo do que com os monumentos. Phnom Penh foi construída justamente para ser a nova capital dos khmers, povo que tinha construído Angkor e a abandonou. Na Tailândia, me disseram que a mudança de capital se deu em razão do temor com as invasões tailandesas (Angkor Wat fica muito próxima da fronteira com a Tailândia), mas os cambojanos podem dizer que é uma mera mudança administrativa, ora bolas…

O povo cambojano é FANTÁSTICO. Um dos mais hospitaleiros que visitamos até hoje. Os cambojanos são pobres, alguns paupérrimos, mas não tiram o sorriso espontâneo do rosto. Essa é a maior diferença em relação aos tailandeses, por exemplo. Por estarem tão acostumados com turistas desde muito tempo, os tailandeses são muito mais “maliciosos” do que os cambojanos. O cambojano é ingênuo, até, mas não bobo, é claro.

Como pontos turísticos, Phnom Penh tem dois mercados (o russo e o Central), um belo palácio, um campo de extermínio de pessoas (nos arredores) e uma prisão de interrogatório. A cidade transita, então, pelo seu passado do Khmer Rouge e o presente budista e mercador.

Visitamos o mercado Central, o Palácio e a prisão. Deixamos os Killing Fields e o mercado russo para uma próxima visita (que realmente deve ocorrer um dia).

Phnom Pehn tem muito de seu passado pelas ruas, com, infelizmente, muitas pessoas mutiladas pelas minas terrestres. Não vi grandes resquícios da guerra do Vietnã por lá e existe alguma memória sobre o que o nosso Pol Pot fez por lá.

O povo cambojano é, na sua maioria, budista, o que faz com que haja muitas imagens de buda pela cidade, além de monges por todos os lados…

Breve história

O Camboja é um país muito rico em história neste último século. Se na época dos khmers eles brigavam com a Tailândia e alguns vizinhos, após este período eles passaram por uma colonização francesa (de 1863 a 1953) interrompida pelo período da II Guerra Mundial, quando caiu nas mãos dos japoneses. Depois disso ficou independente e viu nascer um grande sentimento nacionalista. O rei Norodorm assumiu o país e ficou ali até 1970, quando seu Marechal Lon Nol dá um golpe de Estado e toma o poder. Esse Lon Nol fica no comando até 1975, quando as tropas de Pol Pot marcharam por Phnom Penh e tomaram de novo o poder. Aí eles ficaram até 1978 derramando muito sangue por lá, até serem depostos por um governo “amigo” vietnamita.

Briga vai e briga vem, a turma do Pol Pot seguiu lutando contra o governo até 1990 (quando o comunismo oficialmente acabou, com a queda do Muro de Berlim um ano antes). A ONU interveio, tomou um pouco de conta da situação e, em 1993, chamou o rei de volta para lá, instalando uma monarquia constitucionalista no país. Até 1998 a situação continuou complicada, pois Pol Pot estava na floresta e seu fantasma ainda existia sobre os governantes. Em 1998 ele “morreu de ataque cardíaco” segundo as fontes oficiais. As conversas no Camboja dão conta de que ele foi é assassinado pelo atual primeiro ministro, Hun Sen. Estava, assim, pacificado o país, para que tentasse renascer das cinzas após um século tão conturbado quanto o XX.

Diferentemente de tantos outros locais históricos, onde tudo se passou há tanto tempo (por exemplo Berlim), Phnom Penh ainda tem nas ruas muitas pessoas que realmente viveram esses períodos. Aparentemente os temas ainda são bastante presentes por lá, apesar do povo não falar sobre isso facilmente. A gente consegue conversar um pouco, mas acho que é um tema que incomoda as pessoas…

Pensei, erroneamente, que o pessoal falasse um pouco de francês por lá e que essa língua, apesar de não dominante, ainda fosse fluente. Nem pensar. Eles falam e são alfabetizados em khmer (que tem alfabeto próprio). Os resquícios de colonização francesa são alguns restaurantes e os casarões na região central e beira rio. O hotel que ficamos, o ótimo The Pavilion, é uma dessas mansões restauradas…

Enquanto o tema está fresco, vamos começar por Tuol Sleng (ou S-21)

Tuol Sleng (S-21)

Pense no inferno. Pensou? Piore um pouco. Talvez assim você chegue próximo do que foi esse absurdo.

Tuol Sleng foi uma prisão de interrogatório, usada pelo Khmer vermelho para combater opositores do regime.

Como todos os governantes que tomam o poder na marra, o Pol Pot tinha mania de perseguição. E isso, obviamente, incluía TODO MUNDO. Então ele teve a brilhante ideia de transformar uma escola secundária em centro de interrogatório, tortura e genocídio (nem se pode falar em assassinato, porque as proporções foram absurdas). Ali ele executou todo o tipo de tortura psicológica, física e mental nos coitados dos cambojanos. Pelo que pudemos perceber nas placas, todo mundo era inimigo até prova em contrário. Não é que o cara pegava realmente inimigos e opositores e os maltratava. Ele fazia isso com todo mundo. Um jardineiro, um mecânico, um verdureiro, por exemplo, pessoas que nem politicamente engajadas eram, foram torturadas e assassinadas sob a desculpa de estarem a serviço da CIA. Um dos relatos que eu li lá, dão conta de um mecânico, que, diariamente torturado, confessou ser agente infiltrado da CIA. Era muito provável que ele não fizesse ideia do que era a CIA…

A prisão tem cinco prédios e cada um deles foi dividido para tipos de presos. As fotos são chocantes…

A lousa foi mantida, lembrando que aquilo tinha sido uma escola…

A prisão foi dividida em salas e cada sala de aula teve construídos muros que correspondiam a uma cela. Cada cela, de mais ou menos 2 m2, armazenada um homem ou mulher. Havia algumas de madeira e outras de alvenaria. Eram parcamente iluminadas, e com nula higiene. As pessoas ficavam acorrentadas, inclusive nas celas.

As camas serviam para tortura. As pessoas eram deixadas amarradas nessas camas para serem torturadas. Frequentemente morriam por lá. Um horror sem tamanho…

Essa gravura mostra um tipo de tortura a que os prisioneiros eram submetidos. Pelo que li nas placas por lá, eles desenvolveram (ou copiaram) uma técnica de “dobrar” as pessoas até um limite de quebra da coluna. Nesse ponto, tomados pela dor, os torturados desmaiavam. Aí os torturadores colocavam a cabeça dos torturados dentro de latrinas, para que eles acordassem rapidamente pelo odor. Neste momento de “plena consciência” eram inquiridos sobre sua colaboração com outros governos inimigos e etc…

Consta que a descoberta de Tuol Sleng ocorreu porque um fotógrafo vietnamita seguiu uma “trilha de corpos”…

Os últimos quatorze, que foram descobertos quando o local foi tomado, estão sepultados por lá… Isto, obviamente, foi uma sorte, já que os outros 20 e tantos mil que foram assassinados antes não tiveram, também, direito a um enterro digno.

Aí o leitor vai perguntar: peraí, você é maluco? Doido? Viaja 20 mil quilômetros para ficar vendo torturas e histórias horrendas? Que tipo de bicho te mordeu?

E eu respondo: nenhum. Eu simplesmente acho que pessoas demais já sofreram neste mundo para a gente achar que tudo está aqui deste jeito por acaso. Esta história, e a contada no campo de Sachsenhausen, por exemplo, devem servir de modelo para que essas coisas NUNCA mais aconteçam nesse mundo. É por esse motivo que as memórias existem. Para que esses absurdos não ocorram mais.

O Pol Pot, na minha opinião, é ainda pior do que o Hitler porque ele dizimou um terço do seu próprio povo. Hitler, pelo menos, dizimou um povo que ele não considerava como seus semelhantes. Pol Pot matou um terço dos khmers, gente da sua própria gente…

Enfim, o lugar me deixou revoltado, mas valeu a pena conhecê-lo…

Dos doze sobreviventes, quatro ainda estão vivos e ficam por lá. Se interessar a história deles, dá prá conversar na saída, perto da livraria.

O palácio e a silver pagoda

Saindo da parte “macabra” de Phnom Penh, a cidade também possui uma bela obra de arquitetura. Falo do palácio real.

Dizem que o palácio real de Phnom Penh é baseado no de Bangkok, só que em menor escala. Até achei que a arquitetura de ambos seja meio similar, mas o de Bangkok é muito maior…

O rei ainda mora por lá, por isso grande parte dos palácios é fechada (assim como em Bangkok, mas lá o rei não mora mais no palácio). Assim, a visita fica meio limitada aos jardins e à parte externa.

Vamos passear?

Taí a Naga, guardando o palácio, como em Angkor Wat…

Os palácios são muito bonitos (como se nota pelas fotos) mas a visitação interna é limitada. A silver pagoda (um templo budista de chão de placas de prata), por exemplo, não permite fotos internas (ainda vou entender isso um dia, o motivo de limitarem fotos internas em monumentos históricos). É um local bonito, faz parte do complexo e serve para orações.

Turisticamente, é um lugar relevante, daqueles que não se pode perder em uma viagem até lá. Mas o complexo não é grande e pode ser visitado rapidamente. Basicamente são dois lugares, o palácio e a pagoda com chão de prata.

E não é que eu queira meter o pau à toa não, mas como um país tão pobre como o Camboja pode se dar ao luxo de ter um palácio tão suntuoso? Os caras cortam a grama lá dentro e o povo morre de fome lá fora… Mas enfim…

Mercado Central

Amigo pechincheiro, amiga fuçadora… preparem-se! Essa é a meca do consumo cambojano. Eis o Mercado Central de Phnom Penh!

E o que que vende lá, seu blogueiro?

TUDO! Quer peixe? Tem. Quer joia? Tem. Quer comida? Tem. Quer fruta? Tem. Quer roupa? Tem. Quer acessórios para a casa? Tem. Enfim, tem tudo.

Dá prá gastar umas boas horinhas pechinchando e comprando todo tipo de quinquilharia. Quando fomos, havia um bazar do lado de fora em que estavam vendendo roupas masculinas de boa qualidade com aquele precinho camarada que só o Camboja tem…

O prédio é bonito, mas já foi ocupado de tudo quanto é jeito (interna e externamente). Lá, também, tivemos o privilégio de ouvir música brasileira da melhor qualidade, tipo exportação: garota tantão!

Pensamos, inicialmente, que se tratava de um mercado de frutas e legumes. Mas não é. As roupas são de baixa qualidade, estilo falsificações baratas. Mas existem coisas interessantes também. Compramos toalha de mesa de ótima qualidade, além de alguns outros objetos para casa. Vale o passeio por lá.

Como disse, ficaram faltando os Killing Fields (que segundo a moça me falou são piores do que Tuol Sleng) e o mercado russo. Ficarão para a próxima.

O que não vai ficar para a próxima é a vista do rio Mekong (o grande motivo que me levou para Phnom Penh):

Essa é a vista da janela do Blue Pumpkin, um restaurante/lounge excelente. Tem em Phnom Penh e em Siem Reap…

(Não ganho nada para falar bem de restaurante, ainda mais no Camboja…)

Vale a pena visitar, seja em Siem Reap ou em Phnom Penh. Eles possuem um delicioso shake de manga, além de pratos de ótima qualidade. Como tudo é muito barato no Camboja, dá até para frequentar o lugar toda hora…

Nossa outra experiência gastronômica foi neste outro acima. Comemos comida khmer neste bistrô, que fica na Sisowath quay, a avenida beira rio.

Até que para quem só ia dar uma “passadinha” por Phnom Penh, o passeio rendeu bastante… E eu já estou com saudades…