Chichen Itzá – Vá, mas fuja do mico!

Chichen Itzá é/foi uma cidade maia, localizada na Península de Yucatán. Dista uns 200 km de Cancún, que podem ser percorridos em aproximadamente 2 horas e meia de carro ou num ônibus de turismo, numa das muitas excursões que saem diariamente de Cancún.

Antes de irmos a Cancún, recebemos informações meio conflitantes sobre a melhor forma de se ir até lá. Uma delas dizia que não valia a pena fazer a viagem de excursão, pois era uma saga interminável. Outras diziam que o melhor seria ir de ônibus, já que daria paral descansar na volta.

Enfim, optamos por ir de excursão (parecia ser a melhor opção no momento) ao invés de irmos de carro alugado. Indo de carro, há dois pedágios interstaduais, na faixa de USD 28 de gasto total mais os custos do combustível. No fim, dava praticamente no mesmo.

Também pegando informações na internet, resolvemos comprar a excursão do Alvaro Tours, muito bem recomendado em outros blogs e fóruns (e por mim também). Eles falam um portunhol decente e organizam o possível. Fui para lá pensando em pegar uma excursão especial que eles possuem, em português, chamada Chichen Especial. Pois bem, chegando lá, descobri que as reservas eram feitas pela internet e que os passeios para os próximos dias estavam lotados (esse tour sai uma vez ou duas por semana e vai de van, portanto leva menos gente). Tivemos que ir no comum mesmo, com guia em espanhol, almoço e ingressos incluídos, além de pararmos num cenote.

Qual a diferença entre o comum e o especial?

A diferença não é só o guia. O filho do Álvaro, que foi quem nos atendeu, me informou que ele (especial) era mais rápido. O que é clássico no México é o jeito muito próximo do nosso de fazer as coisas. Meio enrolado e com uma série de vendas no caminho. O fim das contas é que esses tours “comuns” ficam parando em lojas de souvenirs na estrada, que são caríssimas e pagam comissão para os guias e para as empresas. Eu já tinha essa informação, mas acabei caindo neste pega turista. O ônibus parou em duas lojas no caminho, dando tempo para “comprarmos regalos típicos maias”…

Aí a lojinha “típica” maia…

E um vendedor de comida local

A velha discussão sobre ir ou não de excursão…

É chato tomar todo esse espaço do post sobre Chichen Itzá para falar de coisas alheias ao próprio sítio arqueológico, mas esse tour é um daqueles típicos em que a gente fica entre a cruz e a espada. Posso dizer que ir de excursão é muito ruim porque o passeio fica hiper corrido e eles nos fazem perder muito tempo com coisas que não fazem o menor sentido. Essas paradas em lojinhas e a demora nos restaurantes, por exemplo, tornam curtas a estada em Chichen Itzá e  no cenote. O tempo da excursão é muito mal gasto, deixando o principal em segundo plano, o que é inadmissível.

Então vale a pena ir de carro? Não sei. Se fosse hoje, eu iria. O problema do carro é a já conhecida má fama da polícia mexicana e suas propinas. Se você andar sempre rigorosamente nos limites de velocidade, provavelmente não será incomodado. Se não, separe “o do guarda” e seja feliz…

Cenote

Cenote é uma caverna/reservatório de água natural, que existe em toda a península de Yucatán. Como a terra por lá é muito porosa, a água da chuva penetra e forma verdadeiros rios subterrâneos. Os maias sabiam disso e usavam os cenotes para obter água. Existe um próximo de Chichen Itzá, chamado “Cenote sagrado” que era usado pelos chefes maias e suas famílias, como balneários.

A água é gélida (mas dá prá entrar e nadar). É uma vista muito bonita e uma sensação incrível estar ali…

Seguem fotos:

Descemos alguns degraus para chegar ao cenote

A foto de cima mostra uma cruz, feita pelos espanhóis. Os maias eram muito religiosos e colocavam altares maias nesses cenotes. Em todos os lugares em que se vê uma cruz, significava que havia um altar maia para adoração, que foi destruído pelos conquistadores espanhóis.

Chichen Itzá, ufa!

Depois da saga das lojinhas, restaurantes e da correria no cenote, finalmente chegamos em Chichen Itzá.

Se você, como eu, não tiver opção e for encarar a excursão, esqueça comprar qualquer souvenir nessas lojas. Compre do pessoal que vende em Chichen (e são muitos, acredite). Lá é tudo INFINITAMENTE mais barato. Aquelas pirâmides clássicas custam, por exemplo, em torno de USD 1.

Nosso guia nos deu uma explicação sobre a pirâmide de Kukulcán e sua construção. É algo impressionante, não só pela imponência, mas também pelo modo como foi feita. São quatro lados equivalentes, com 91 degraus cada, que somados ao topo dão 365, representando os dias do ano. Os maias eram exímios astrônomos e possuíam um controle muito preciso do tempo.

A nossa amiga serpente aí de cima é a representação de Kukulcan, a serpente emplumada que vinha dos céus. Vou citar a definição da wikipedia para o fato:

“Astrônomos corroboraram que durante os primeiros minutos do amanhecer do solstício de Junho (Verão hemisfério norte) e durante um período de 15 minutos, a pirâmide de Kukulcán é iluminada nas fachadas NNE e ESE pelos raios do sol, enquanto as fachadas ONO e SSO permanecem na obscuridade. Por outras palavras, cerca de 50% da pirâmide permanece iluminada e cerca de 50% permanece na obscuridade marcando com este simbolismo o momento exato do solstício.

Este efeito de luz e sombra ocorre de jeito semelhante durante o solstício de Dezembro (Inverno no hemisfério norte), mas no entardecer as fachadas iluminadas são a ONO e SSO, enquanto as fachadas NNE e ESE permanecem na sombra. O fenômeno é devido à orientação de +/- 20° com referência a norte geográfico, e a latitude em onde se encontra situada a pirâmide.”

Vamos ao que o guia me contou:

Nesses lugares, como em todos os sítios arqueológicos pré colombianos, não há informações claras sobre o que aconteceu e nem seus motivos. Esses povos sumiram ou foram conquistados e os maravilhosos espanhois ultra religiosos queimavam todo o conhecimento do lugar, além de quebrar o que achassem que era “satânico”. Acabaram com tudo e deixaram o mundo sem um bom tanto de conhecimento.

Pelo que se especula, o fato dessa serpente ficar iluminada nestas datas era proposital. O efeito que a iluminação dava era o da descida da serpente dos céus para fertilizar a terra no momento de plantio (junho). E depois, em dezembro, ela voltava aos céus, no momento da colheita. Por isso eram efetuadas oferendas e até sacrifícios humanos: em nome de boas colheitas e da perpetuação do povo.

O ÚNICO problema disso tudo foi o fato de a serpente ser considerada o símbolo do pecado para os cristãos. Para os maias ela era o símbolo da vida. Essa questão meramente referencial, fez com que as designações de serpentes (que ocorrem em todas as civilizações pré colombianas) fossem combatidas pelos conquistadores. Isso também ocorreu em Cuzco, com os incas, já que os deuses eram semelhantes.

Enfim, essa pirâmide é o símbolo máximo da cidade e, apenas por ela, já valeria a pena o deslocamento.

Mas tinha mais…

Observatório

As fotos acima indicam o que seria o observatório astrônomico do lugar. Obviamente que foi construído seguindo cálculos matemáticos precisos para uma excelente visualização do céu. Eles eram obcecados com esse negócio de espaço…

Acima há ainda outras fotos de demais lugares. O sítio está sendo escavado e reconstruído, já que foi encontrado todo tomado pelo mato e semi destruído. A pirâmide de Kukulcan já foi bem restaurada, mas ainda faltam algumas das faces.

É um passeio que realmente vale a pena ser feito, independentemente do modo. Se tiver que ser com a excursão, que seja. Se tiver a opção do carro, talvez seja melhor. O que não dá é prá ficar sem ir.

Viva Chichén!