Agora vamos passear por Potsdam. Pelos jardins e palácios, para ser mais preciso.
Grandes impérios deixam grandes marcas. Grandes reis, além de mudarem ou afirmarem suas ideias, deixam grandes legados. E esses legados sempre incluem grandes construções. Elas são o que nos resta para entender o passado e o modo de vida daquelas pessoas. Além, é claro, de serem obras de arte.
De Berlim, para chegar a Potsdam, basta pegar o S1 (Oranienburg – Potsdam – essa linha S1 é o bicho!). A viagem leva uns 45 minutos, já que o trem para em diversas estações no caminho, mas é agradável. Chegando na Potsdam Hbf é só procurar os ônibus que ficam na frente da estação e escolher para onde ir. Nosso destino era o Schloss Sans Souci (Palácio Sanssouci).
As visitas têm hora marcada, por isso aconselhamos que você passe na bilheteria, compre os ingressos e depois passeie pelos jardins. Nós fizemos o contrário e quando fomos comprar os ingressos marcaram para dali 1 hora e meia. Não que não fosse agradabilíssimo passar mais um tempo nos jardins mas, para quem tem pouco tempo, a opção de comprar o ingresso logo na entrada é melhor.
Ali na região também existe um “biergarten”. Os alemães adoram isso. Eles colocam mesinhas num jardim e alguns quiosques com comidas e bebidas. No dia em que fomos estava muito frio (e era primavera) por isso só tinha um quiosque aberto. Fica do outro lado da rua, em frente ao palácio. Ali também existia um outro restaurante, mais chique… Voltando ao palácio propriamente dito…
Para entender mais ou menos a história: O Palácio Sans Souci foi erguido por Frederico II (1712 – 1786), rei da Prússia (também conhecido como Frederico, o Grande). Era seu lugar preferido de descanso (Sans Souci significa “sem preocupação”). No fim das contas, foi o lugar onde o rei passou mais tempo durante seu reinado…
O palácio foi projetado por Georg Wenzeslaus von Knobelsdorff entre 1745 e 1747. Acontece que o rei, que gostava muito do lugar e tinha conhecimentos, resolveu ele mesmo acompanhar a construção do palácio. Por divergências com o arquiteto, em 1746 ele o despediu e o holandês Jan Bouman foi quem terminou tudo.
O palácio é frequentemente comparado à Versalhes, na França. Digo que a comparação é válida, principalmente por causa dos jardins. Acredito, também, que o parque onde está Sans Souci (e os outros palácios que falaremos depois também) seja tão grande quanto a área em que está Versalhes. Porém, o Palácio de Sans Souci é bem menor, possuíndo apenas 10 cômodos. O rei queria uma coisa mais intimista e nem se preocupava tanto com chocar as pessoas com poder e luxo. A sua ideia era fugir de Berlim em momentos de estresse e ter sossego por lá. Acredito que tenha conseguido…
Vamos ao palácio
Esse meninão aí é o palácio propriamente dito. 10 cômodos, apenas uma planta (não tinha andar superior). A decoração interna, no estilo Rococó, é muito rebuscada (não nos permitiram foto lá dentro e eu juro que ainda vou tentar entender o porquê disso um dia). O rei cultivava muitas frutas no jardim. Ele as adorava. Por isso mesmo, diferentemente do que normalmente ocorre nesses palácios, a decoração dos tetos e das paredes tinha muitas frutas desenhadas (nunca tinha visto isso). Ele desenhava pêras, morangos e uvas para decorá-lo.
A terceira foto acima é da sua galeria de pinturas, que estava fechada no dia em que visitamos…
O rei também era um sujeito muito culto e metido a flautista. Assim, lá dentro havia uma sala que era usada como câmara para concertos. Dizem que grandes pessoas da época tocaram lá e que a orquestra do rei era muito boa. Ele mesmo tocava flauta para os visitantes e também era considerado um bom instrumentista.
Além dos dotes artísticos, o rei Frederico II gostava de uma boa prosa. Voltaire, só para ficar num exemplo, era grande amigo dele e passou muito tempo em Sans Souci. Havia muito diálogo entre ambos e Voltaire respeitava as ideias do rei. Criticava um pouco o espírito bélico dos prussianos mas, em geral, as discussões sempre mantiveram bom nível.
Dentro do palácio há uma grande quantidade de pinturas. Esculturas greco-romanas existem tanto dentro como nos jardins.
E falando em jardins, vamos a eles:
A primeira impressão é de que realmente se parece muito com Versalhes. A fonte redonda, de frente para a entrada do palácio, é muito parecida com a do francês. Mas os jardins são bem diferentes. Um curiosidade é que essa fonte que hoje jorra água, nunca funcionou enquanto Frederico II era vivo, por conta da falta de tecnologia da época. Só foram colocar isso prá funcionar uns 100 anos depois da inauguração do palácio…
Há boatos de que o nosso reizão era homossexual. Outros dizem que era bissexual. Outros que era celibatário. Uma outra corrente defende que ele “tinha mais com o que se preocupar” do que com ter uma mulher. Cada um com seu cada um, é claro. Fato é que ele não teve herdeiros e visitava a esposa apenas uma vez por ano (pois é, cada um morava num lugar).
Nosso rei, como já citado, também gostava muito de cuidar dos jardins e gastou muito de seu tempo (e dinheiro) cuidando dos de Sans Souci. Posso dizer que ele teve êxito, já que os jardins são maravilhosos… Havia plantações e produção própria das frutas que ele gostava…
Para dar um ar mais “rural” para o lugar, ele também mandou fazer um moinho por lá. Esse é reconstruído já que o original foi bombardeado na segunda guerra…
Deixo uma foto panorâmica do palácio (créditos ao meu irmão, que a tirou)… Uma joia.
Neues Palais
Se por tudo isso que eu escrevi acima você pensa que o rei Frederico II era um cara desprendido, despojado de guerras e preocupado mesmo era com um bom sarau, pode mudar a sua ideia. Vamos conhecer agora o Neues Palais, que fica ao lado oeste do parque de Sans Souci.
Uma caminhada de uns 2 km pelos jardins (agradável, diga-se de passagem) te levará ao Neues Palais. Nós fomos até a metade do caminho, mas como tínhamos horário para visitar o palácio Sans Souci, voltamos. Decidimos ir de ônibus, que corta os parques todos e nos levou até lá.
O palácio, em si, é bem maior que Sans Souci. Começou a ser construído em 1763 e ficou pronto em 1769. Foi feito em comemoração ao término da guerra dos sete anos, por uma região na Silésia. Em resumo, Frederico II gostava de uma prosa, de um sarau e de um concerto. Mas igualmente gostava de conquistar mais territórios para o seu reinado.
Como se nota, a frente do palácio era bem mais imponente do que Sans Souci. A ideia desse lugar era receber convidados, bailes e teatros. Era o lugar do rei mostrar sua força para outros monarcas e pessoas distintas da época. Posso afirmar que eu ficaria impressionado se fosse até lá…
Tinha 200 salas (20 vezes maior do que as 10 de Sans Souci). Foi nos dito que o rei hospedava seus convidados ali, quando havia alguma ocasião importante. Hoje, está sediada uma exposição, em homenagem aos 300 anos de seu nascimento.
O palácio acabou caindo em desuso quando de sua morte e ficou um bom tempo deixado de lado. Quando o futuro rei Frederico III ainda era príncipe (em 1859) usava o palácio como seua residência de verão. Quando assumiu o trono, em 1888, (por 99 dias) ele acabou reformando um pouco o lugar (cada rei que assume muda a cara do palácio para deixar do seu seu jeito, essa é a tônica) e ficou por lá. Depois dele, o rei Guilherme II deu uma outra geral no lugar e se estabeleceu por lá também. Quando esse rei (Guilherme II, último imperador prussiano) abdicou, o palácio se tornou um museu. Estaria com mobília fredericana até hoje, se não tivesse sido pilhado pelo Exército Vermelho na segunda guerra mundial…
O parque dele não estava tão bonito por causa das reformas que estavam sendo feitas no local. Nesse palácio nós optamos por não entrar, apenas vimos de fora. Vai ficar para uma outra oportunidade…
À frente do palácio existem outros dois prédios (alas de serviço), que davam direto para os jardins e estavam com tapumes em reforma.
Só prá dar uma ideia, essa é a ala de serviço que, como eu disse, está em reformas. Ela é usada atualmente pela Universidade de Potsdam, que fica no parque Sans Souci…
Querem mais palácios? (por isso que a gente não entra em todos, senão fica louco…) Vamos lá!
Orangerieschloss
Lá em Potsdam a gente descobre como eram os monarcas. Acredito que todos os reis do mundo deviam ser mais ou menos assim. O sujeito assume o trono e quem disse que quer ficar no palácio que o pai/avô fez? Nananinanão, o cara quer é fazer um prá chamar de seu. Afinal de contas, quem casa, quer casa, não é?
Esse aqui é o Palácio do Laranjal (em tradução livre). Foi feito pelo Romântico no Trono, Frederico Guilherme IV, entre 1851 e 1864.
Segundo li, o projeto contemplava mais uma obra gigantesca e imponente (e já é). Só que os tempos foram muito instáveis e não deu prá fazer tudo o que o rei queria. O projeto era quase uma cidade, que ligaria a ala leste de Sans Souci até Belvedere, em Klausberg. Não rolou tudo e só o palácio e um arco é que foram feitos.
Falando assim, até parece pouca coisa. Mas não é. Uma boa foto da frente não vai me deixar mentir.
Foto do palácio visto de baixo, da rua
A fonte, nas escadarias…
O dono do lugar…
Os jardins…
E a panorâmica (créditos sempre pro meu irmão)
Esse aí também estava em reforma. Pelo comprimento do palácio (tinha facilmente uns duzentos metros) eu fiquei pensando em que tipos de festa não deviam acontecer ali, e que delícia seria uma festa de casamento no lugar…
Ainda querem mais palácios? Vamos ao último do complexo do parque…
Schloss Charlottenhof
Esse daqui estava fechado para reformas. Nem água na fonte que ficava em frente ele tinha. Mas mesmo assim deu boas fotos externas. Vamos a uma breve história do lugar?
Se o palácio do Laranjal era a residência do Frederico Guilherme IV, Charlottenhof era seu palácio de verão enquanto príncipe herdeiro. Não tem a suntuosidade do Neues Palais e, por ser menor, tem um pouco da intimidade de Sans Souci.
Alexander von Humboldt foi hóspede do local, entre 1835 e 1840.
O palácio é mais simples, mas também tem um jardim bastante aprazível. Acredito que o príncipe devia gostar de seus ares…
Charmoso o lugar, não?
Saindo de Charlottenhof, temos um imenso jardim com um rio que corta o lugar. É realmente muito bonito, com animais nadando pelo rio, bancos para se sentar. Um lugar de rara beleza e tranquilidade…
Agora acabou, né?
Os palácios, sim. Acabamos não indo em Cecilienhof, onde foi assinado o tratado de Potsdam, porque ele não fica no mesmo parque. Bom motivo para voltar lá um dia…
No complexo, ainda existe uma igreja, que era dos reis. Como o pessoal por lá era protestante, as igrejas são simples e não possuem aquele estilo cheio de imagens, como na França e Itália, por exemplo. Ela fica rente a um rio que corta o lugar e dá uma impressão muito bonita. A foto não ficou lá essas coisas, porque é difícil de tirar, mas dá uma ideia…
Potsdam é um lugar que realmente vale a visita.
Espero que aproveitem.